No dia 22/10/2012, na passagem pela TC tórax surgiu um
caso de Fibrose Cística, sendo o caso escolhido para abordar.
A Fibrose
Cística é uma doença autossómica recessiva que apresenta-se com uma
sintomatologia multiorgânica. É causada por uma mutação no cromossoma 7, que
codifica a proteína reguladora da condução transmembrana (CFTR). A sua prevalência varia consoante a etnia da população, sendo maior na
raça caucasiana - 1/2500 (Fauci et al, Harrison, 17º edição).
“A manifestação fisiopatológica
fundamental da FC é a disfunção da proteína transmembrana CFTR responsável pelo
equilíbrio entre cloreto, sódio e água. A inatividade ou funcionamento parcial
da CFTR reduz a excreção de cloreto para a superfície epitelial e, como
mecanismo compensatório, há influxo de sódio e água para a célula de modo a
manter equilíbrio hidroeléctrico” (Capone, et.
al., 2011).
A nível pulmonar, a
deficiência desta proteína conduz (Fauci et al, Harrison, 17º edição):
· Desidratação do muco brônquico e o aumento da sua viscosidade;
· Anomalias reológicas que alteram o clearance muciciliar, favorecendo as
infecções e bronquiectasias;
·
Diminuição da atividade das
defensinas.
Sendo uma doença
multisistémica, outros órgãos são afectados por este défice da CFTR, tais como (Fauci
et al, Harrison, 17º edição):
1. Pancreáticas
a. Obstrução dos canais pancreáticos pelas secreções viscosas;
b. Insuficiência pancreática;
2. Vias biliares
a. Litíase;
b. Cirrose biliar;
3. Tubo digestivo
a. Oclusão neonatal;
4. Génito-urinário
a. Obstrução dos canais deferentes;
b. Esterilidade por azoospermia;
5. Glândulas sudoríparas
a. Concentração anormal de cloro no suor.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
“A maioria dos pacientes com fibrose cística apresenta sinais e sintomas
da doença na infância. Cerca de 20% inicia-se nas primeiras 24h de vida com
obstrução do aparelho digestivo (íleo meconial). Outros quadros comuns durante
os primeiros anos de vida são os sintomas respiratórios com predomínio de tosse
persistente, infiltrados pulmonares recorrentes e atraso no crescimento. Todavia,
um grupo significativo de pacientes (cerca de 5%) só diagnostica a doença
depois dos 18 anos” (Fauci et al, Harrison, 17º
edição).
Em seguida, apresentam-se
algumas das manifestações clínicas por grupo etário, ou seja, lactente, criança
e adulto (Fauci et al, Harrison, 17º edição).
·
Lactente
o Bronquites recidivantes sibilantes;
o Tosse crónica;
o Encharcamento brônquico (Cinesiterapia);
· Criança
o Tosse com expectoração;
o Bronquites de repetição;
· Idade adulta
o Predomínio do sexo masculino (55-60%);
o Atingimento respiratório é constante e condiciona o prognóstico;
o Broncopatia crónica obstrutiva evolutiva > taxa de complicações
(pneumotórax e hemoptises – 15%);
o Colonização brônquica crónica por Pseudomonas
aeruginosa (60-88%);
o
Frequência de estirpes de Pseud.multirresistentes e de outras (Burkholderia cepacia; Stenotrophomonas
maltophilia; etc);
o Insuficiência respiratória (evolução);
o Insuficiência pancreática
§ Diabetes (7-14%);
o Intestinal
§ Síndrome de oclusão ou sub-oclusão intestinal distal;
o Nutricionais- agravamento paralelo à insuficiência respiratória;
o Hepático
§ Cirrose com hipertensão portal (5-10%);
§ Esteatose ; Colestase crónica; Dilatação das V.B.I.H;
o Osteoarticulares- Artrites; osteoporose;
o Fertilidade Esterilidade e Gravidez
§ Puberdade retardada em ambos os sexos;
§ No homem - 95% atresia ou ausência dos canais deferentes, vesículas
seminais - azoospermia;
§ Na mulher
· Fertilidade diminuída (alteração do muco cervical);
· Taxa de abortos espontâneos baixa -5%;
· Interrupção médica da gravidez- 18%;
· Prematuridade fetal - 35%;
· Agravamento da insuficiência respiratória durante a gravidez.
DIAGNÓSTICO
“O diagnóstico deve
ser considerado em caso de indivíduos que apresentem infecções respiratórias de
repetição, sinusite e bronquiectasias” (Capone, et. al., 2011). Assim, podem ser
utilizados os seguintes exames (Fauci et al, Harrison, 17º edição):
1.
Teste do suor (iontoforese da pilocarpina)
a.
Taxa de Cloro > 60 mEq /L
2.
Determinação da diferença de potencial nasal
a.
Diferenças de potencial entre – 40 e-70 mV (N= -20 mV)
3.
Análise genética
a.
2 mutações confirmam o diagnóstico
b.
Ausência de mutação não infirma
c.
Indicado nos inquéritos familiares (aconselhamento
genético); Suspeita de mucoviscidose e formas atípicas; despiste neonatal
pontual
4.
Estudo funcional respiratório
a.
Distensão com > CPT, CRF; VGIT
b.
Alterações precoces dos débitos distais (DEM 25-75) com
aspecto côncavo da curva débito-volume; < VEMS e da CV
c.
Hiperreatividade brônquica em 25%
d.
Hipoxémia e dessaturação oxihemoglobínica durante as
agudizações , depois ao esforço e finalmente em repouso
5.
Exame Bacteriológico da Expectoração
a.
Em geral colheitas de 3 em 3meses (Cinesiterapia), nas
agudizações e pós-antibioterapia
b. Hemophilus Influenzae; Staphylococcus aureus;
Pseudomonas aeruginosa
6.
Radiologia
“A radiologia é uma
importante ferramenta na avaliação inicial, permanecendo como modalidade
diagnóstica primária no seguimento dos pacientes” (Neves & Schuh,
2011).
“As radiografias
simples do tórax podem sugerir o diagnóstico bem como surpreender as principais
alterações relacionadas à doença”. Assim, consideram-se os sinais precoces (Capone, et. al., 2011):
· Hiperinsuflação –
presença de obstrução das pequenas vias áreas por muco;
·
Espessamento das paredes brônquicas nos lobos superiores,
sobretudo o direito.
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